COMO A PRÓPRIA EDUARDA DIZIA "MÃE TU ÉS A MINHA ESTRELA CINTILANTE"
AGORA PASSOU A SER A EDUARDINHA, A ESTRELA CINTILANTE QUE BRILHA BEM DO ALTO DOS CÉUS

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Natal de Sempre

As memórias estão bem presentes, vincadas sobre o armário da vida, nas gavetas das lembranças, no aconchego dos gestos lindos que travámos cada vez que estivemos juntos. Percorro o tempo, apenas mais tempo. Foste embora com quase 6 anos mas podia ser 16, 26, 36, 46... Mas, o tempo não apaga o significado de tantos momentos juntos, tanta cumplicidade, sentida nas brumas do oceano, na nossa casa protectora, nos jardins das brincadeiras.
Foste. Pronto. Teve de ser. O que fazer? Eu e todos também iremos um dia, para esse lado desconhecido, para onde nos reportamos a qualquer momento. É inevitável. Essa certeza é o que muitos continuam a parecer ignorar, parecendo serem donos deste mundo que não é de ninguém, apenas dele próprio.
Deixaste uma marca bonita na minha existência. Apenas te mudaste. Porque a tua presença está enraizada em todo o meu ser, em todas as minhas acções, naquilo que sou e virei a ser. Peço-te que me ajudes, que me orientes, que olhes por mim e por todos os que te amam. Que me chames a atenção, à tua maneira, quando eu estiver nalgum momento menos bom, quando de alguma forma estiver a não ser o exemplo do pai que quero continuar a ser.
Os teus dentinhos nos mil sorrisos que propagaste são inesquecíveis. Sabes filha, gostaria que o mundo contemplasse, visse o quanto são bonitos os teus dentinhos que fizeram abrir tantas bocas de espanto, admiração e mais sorrisos. A tua face colorida de magia, foi e continuará a ser a fonte da minha inspiração. Os teus olhos são o mote da minha capacidade de ver o mundo. A tua força de alegria é o pulsar dos meus dias, o “mergulho” para este mundo complicado e desorientado.
Por vezes, dou por mim a perguntar-se se te adaptarias a este mundo? Tu, criança tão simples, apenas esperando da vida o bem, muito bem... A forma como conduzias os teus dias era absolutamente florida, cheia de cores. Ainda hoje ouço a tua voz, vejo a tua dança, acompanho os teus passos, sensibilizo-me com a tua mensagem e deliro com o espectáculo das tuas emoções.
Houve um Natal entre outros quatro Natais que não esqueço... Lembras da pista de madeira com bolas que tanto querias? Com um bonequinho no seu topo e um percurso de descida, três bolas faziam barulhinhos que te transmitiam bem estar, repetindo e repetindo o rodopio das bolas que quando chegavam ao final batiam contra um sininho tilintante. Foi um Natal especial, eras tu bem pequenina, apenas com um aninho e meio...
O Natal de 2008 vai chegar. Três Natais vividos sem ti, sem os raios do teu Sol, que aqueciam tanto, mesmo nas noites mais frias. Vou dar-te uma prenda. Acho que a queres receber e deverá ser tudo o que mais desejas acolher. Vou continuar a viver como sempre, honrando esta palavra que nos deixaste de forma cintilante. O teu SEMPRE sugere-nos que vale a pena continuar a acreditar, a fomentar a vida, ultrapassando barreiras difíceis. Neste e nos próximos Natais de Sempre...

Joaquim Santos

domingo, 16 de novembro de 2008

Eduarda... Uma luz

Num dia de escuridão
Uma porta se fechou
Veio um carro e retirou
O que a vida delegou

Largas-te a tua brisa
Deixaste uma canção
Os momentos vividos
São eternos na paixão

Os carros trazem tristeza
Conduzidos na imprudência
Ninguém imagina a dor
De ver partir a inocência

Para sempre irás ser
Uma criança feliz
Teus olhos e sorrisos
Teu forte amor num bis

Que outras crianças não caiam
Nessa teia da estrada
A ferida que fica dói muito
Nossa inesquecível Eduarda

És exemplo e referência
Numa luz que conduz
Uma alma peregrina
Junto do menino Jesus

És saudade e presença
És amor e carinho
És a Eduarda de Sempre
Nos destinos do meu caminho

És memória para sempre
Solta-te no vento das prosas
O rebento da tua mãe
Num belo jardim de rosas.


Joaquim Santos
13 de Novembro de 2008

Eduarda… Ponte de partida

Chegou… um ponto de partida de tudo
Pois sei que nunca irás embora.

Com as tuas bonecas e castelos
Com os contos de fadas no imaginário
Com as flores dos jardins
E o baloiços que te faziam voar.

Chegas-te… como um elo que sempre irá ser
Viajando por todas as fronteiras do tempo.

Com as barbies e as suas histórias
Com as corridas sem fim
Com o sorriso e as nossas lembranças
E toda a vida que ainda fazes sentir.

Viveste… portadora de uma mensagem
De um regalo tão belo no olhar
De uma onda de esperança deixada
Que um dia tudo existe a recomeçar.

Por isso vives e viverás
Amas e amarás
Cantas e cantarás
Danças e dançarás.

Sempre… para sempre…
Oh pequena dos mil sorrisos
Oh pequena dos mil improvisos.


Joaquim Santos
Maio de 2006

Memória

Texto feito na madrugada do dia 13 de Novembro para o Dia da Memória, evocado à Eduarda de Sempre, uma menina que se tornou estrela no dia 18 de Maio de 2006


Se algum dia te fizerem levantar e correr, procurando pelo, agora, impossível, sentirás uma dor intensa, que crescerá. Correrá uma lágrima. As seguintes formarão um rio. Verás que a memória reside aí, nesse preciso instante.

As memórias são momentos do passado. Todos temos memórias e todos seremos memórias.

Olha para trás ou para tudo o que te rodeia. Não corras, não passes o traço, lê os sinais, respeita quem te surge no caminho. Não vale a pena correr no teu Fórmula 1, naquela recta que estimula o velocímetro e a emoção de um acelerador leve.

Se algum dia te fizerem levantar e correr, aí sim, irás correr, mas para a tristeza e a dor. Só nesse momento verás que não vale a pena correr, porque não chegas a lado nenhum.

Pára. Olha para o mundo, vê quem está à tua esquerda e direita. De mansinho, avança, continuando a olhar. Vai devagar.

Se algum dia te vier à memória um ano, dois anos, três anos… Se algum dia conseguires ver à tua frente que não é bom correres para o nada, entenderás que viverás melhor e chegarás em segurança.

Concentra-te nesse vínculo da vida, a memória. Neste tempo presente, onde os sinais nos mostram cada vez menos memórias registadas, prostra-te sobre o olhar do Céu, sobre a luz de uma Estrela. Escuta o que ela te diz. Observa-a atentamente. Verás que essa estrela é tua amiga, talvez a tua memória. Nesse dia, pede-lhe que te faça entender que todos juntos poderemos tornar este mundo melhor.

Sorri para essa estrela e sente-a com intensidade. A luz que irradia, talvez te inspire para continuares esta jornada, marcada por memórias sem cor, desenho e escrita. A memória é feita de imagem, gravada no Ser de cada um, absoluta companheira de todas as horas.

Ainda é tempo. Trava, modera e pára. Ninguém quer ser esquecido. Todos queremos ser memória das gerações vindouras, especialmente dos que mais amamos. Mas é preciso entender o respeito pela Natureza. Deixa que ela opere, não sejas interveniente irresponsável.

Deixa que a memória surja no tempo certo. Não queiras ser interveniente, mas espectador atento. Não provoques a memória, porém, aceita-a quando ela chegar no seu compasso.

O Homem tem de aprender a não mexer, alterar ou mudar o rumo dos acontecimentos que não lhe compete operar.

Se nalgum dia te fizerem levantar e correr não o faças de qualquer modo ou feitio. Não chegarás a lado nenhum e se alguma vez chegares pode até nem ser pelos teus próprios meios… Poderás já ser uma memória.

Joaquim Santos

terça-feira, 11 de novembro de 2008

As folhas de Outono



Neste Outono, onde sentimos muito mais o vento, somos convidados a uma introspecção dos sentidos. É preciso olhar os sentimentos, redescobrir o brilho, alterar alguns caminhos e trilhar outros já percorridos, olhar para trás sem deixar de olhar para a frente e com muito fôlego falar com os nossos filhos.
Não sei se sou merecedor de chegar onde já está a minha filha Eduarda. Nos meus dias, tal como muitos de vós, partilhamos de acções que nos orgulhamos mas outras nem por isso. Confesso que desde o dia em que a minha filha partiu, sinto que evolui imenso, tornando-me melhor pessoa. Apesar desse estado, mesmo assim, nem sempre consigo estar como melhor desejava. Penso importante reconhecermos isso.
Neste Outono quero pensar mais, chegar mais longe. Convido-vos a irem comigo nessa viagem, ajudando-nos todos uns aos outros, com humildade e carinho. Não vale a pena estarmos aqui com outros preceitos, com jogos e jogadas, com códigos diferentes que nos possam conduzir ao bem.
As folhas caem das árvores e enchem as florestas e os jardins. É assim. Não há nada a fazer. Esta queda das folhas, normalmente castanhas, depois de um verde tão vivo, talvez seja um dos melhores exemplos da vida humana. Caímos e partiremos todos, mais cedo ou mais tarde. Também existem folhas que prematuramente também caem das árvores em estado verde, bem novas na sua existência. Em muitos casos, talvez signifique a perda de filhos da árvore de forma precoce. Ou porque apanharam mais vento ou porque a haste onde estavam partiu, o certo é que de forma nada natural e esperada, muitas folha verdes continuam a cair das árvores.
A natureza é perfeita em mensagens. O que nos quer dizer este Outono que nos remete para o vento, para o agasalho protector dos casacos e que de quando em vez, nos revela folhas verdes a cair das árvores? Não estará triste aquela árvore que despida da sua folhagem se torna mais pobre?
Neste mês de Novembro quero destacar todas as folhinhas verdes que um dia partiram. Os nossos filhos foram essas folhas que voaram da nossa presença, tornando-se nas estrelas que nos iluminam e guiam. É por isso que quero sair à rua e sentar num banco, falando com as árvores, também elas inibidas das suas folhas. Num jardim da cidade ou na floresta, também as árvores podem derramar lágrimas da ausência das suas folhinhas. Por alguns momentos, vão ser elas a minha companhia.
Quero também reconhecer que quero melhorar como ser humano. Construir e reconstruir, com a minha filha, minha família, amigos e… as muitas árvores e folhas deste Outono.

Joaquim Santos
p.s. imagem retirada da net

sábado, 11 de outubro de 2008

À Estrela Luminosa

Os resquícios de tantos momentos vividos são a memória e alimento dos meus dias. Vi-te nascer, crescer pouco mais de metade de uma década e depois assisti sem o desejar ao elevar da tua vida ao mundo onde só as verdadeiras estrelas residem.
Lembro-me dos teus olhos cores de arco-íris, do teu sorriso estampado permanentemente como obra de arte bela e rara e a força da tua vida com capacidades tão peculiar de criança de palmo e meio… Precisava de ti. Preciso de tudo o que és, dos percursos que fizemos enquanto foi permitido dividir os nossos dias. Mas tu, continuas a ecoar no universo total do que sou. Apesar de parecer contraditório, Serzinha, estás mais viva do que nunca.
Na época, no meu entender, eras apenas a filha do “papá e da mamã”. Chegava o que a vida nos contemplava. Não sabia que tinha uma estrela que se iria revelar em tão pouco tempo. Conhecia a tua luz e brilho mas queria-os aqui, bem perto de nós, do palpável e visível. Mas descobri que uma estrela verdadeira é algo de transcendente, fora do entendimento e da razão, tão condicionado é o conhecimento do Homem sobre o desfecho dos tempos na Terra.
Quando no dia 18 de Maio saíste dos campos floridos deste planeta confuso, mascarado de adultos em estado de aprendizagem, percebi tudo filha adorada. Entendi que conhecer-te foi uma dádiva de Deus. A forma como estiveste nos meus dias tornou-me diferente. Atingi que conhecer-te foi viver um passado bom e que ganhara uma semente para me proteger e fazer aprender a viver no futuro. Aprendi a conhecer e reconhecer o presente, grande parte dele incompleto mas sólido na consciência, perpétuo no sentimento e incondicional no agradecimento superior de contigo ter estado numa idade, num espaço.
Viver-te outrora foi saber que foste razão e, viver-te actualmente, é ter a certeza absoluta que és uma enviada especial do mundo das estrelas, que és correio que se difunde pelo mundo das notícias do Amor, Paz e Felicidade. Sei que estás aí. Que permaneces com tudo o que eras e que se acrescentou a Ti a supremacia suprema. Deus criou o mundo perfeito. Tudo cresce, desenvolve-se até um determinado ponto mas depois as coisas mudam de lugar.
Deixaste-me o Anjo que me fizeste na escolinha. Porquê? Pergunto eu, humano condicionado... Sei que ele significa todo o sentimento que nutrias por mim quando o elaboraste. Mas sabes o que me confunde? Porque entregas-te esse anjo no nosso último Natal? Que significado tem aquela construção de barro, envolto em fitas brilhantes, com massinhas coladas na cabeça a imitar cabelo, asas feitas com um poliéster que emite penas e uns olhinhos redondos que me fitam com atenção e cuidado?
À tua mãe maravilhosa delegaste uma frase que o mundo abraçará. Sobre os pequenos como tu, proferiste à tua mais que tudo: “mãe, as crianças não morrem”. É verdade filha. Aprendi isso. Como tu, as crianças vivem sempre, para sempre. Também te desejo perguntar: porque afirmas-te com tanta convicção que a tua mãe querida é “uma estrela cintilante”? Agora, permanece essa estrela cintilante neste canto do infinito universo e tu transportas-te de forma reluzia no mundo das verdadeiras luzes.
Estou diferente. Por te conhecer, por te reconhecer. Marcas-te o chão desta bola giratória mas passaste a destaque do alto que é composto por Deus e muitas Estrelas. Pensei que serias minha mas afinal não somos de ninguém. Somos de todos, para todos. Continuei a não privar-me de Ti, de toda a tua realidade. Embora não te veja, ouça e sinta fisicamente, reconheço que o escuro é menos sombrio com a tua participação de luz. Corrias e vendias vida mas essa tarefa continua-te delegada. Sinto-o. Tenho a certeza que ajudas na difícil tarefa de iluminar corações perdidos, na propagação do sentimento Amor que se quer mais autêntico, na edificação de esperança nos sentimentos sem deslumbramento nas adversidades.
Não choro muito por ti. Desculpa-me por alguma razão, mas sinto que não o devo fazer. Aprendi que viver é aqui e lá. Conhecer-te foi ir mais além, tornar-me num Homem menos dividido mas antes consolidado com o bem. Deu-me a capacidade de perceber o quanto tenho de evoluir, melhorar e cuidar. Um dia, também eu quero ser merecedor de ser luz. Sei que não serei cintilante como tu ou a tua mãe. As minhas preferências, opções de vida, não me conferem esse direito que só mesmo as verdadeiras estrelas auferem. Mas suspeito que posso ser luz. Que vou iluminar alguns cantos e recantos desse lado para aqui também chegar os meus raios de arco-íris incompleto.
Nesse dia que tornou diferente os meus dias e os da tua mãe, deslumbrei que conhecer-te foi a maior das dádivas de todo o nosso existir. Nesse acidente tráfico eu faltei para te amparar. Estive toda essa tarde ao teu lado, a passear na feira, passeando nos carros de choque, nos carróceis, nos barquinhos... Desculpa filha porque não ter oferecido a fartura que pediste. A avó comprou-a depois, não foi? Quem me dera poder comprar-te as farturas de uma feira de todos os dias. Mas sei que o nosso tempo não volta atrás nunca mais.
Abraça-me. Preciso de Ti. A tua mãe precisa de Ti. Precisamos todos de Ti. A tia Patrícia, os tios “Caco” e Elisabete e os avós que eram a tua união e garante de crescimento, somam saudades sem limite, quase sufocados pela ausência do encanto de uma Princesa e a magia de uma Fada que tanta falta faz aos nossos dias. Mas, iluminados pelos teus focos de branco puro, transformamos os nossos dias em quartzo cristalino cor-de-rosa, descoberto por ti nas profundezas do Amor, no fundo, o melhor que sabes dar.
Patrocinas com mérito o pulsar dos corações. Movimentas as marés para a acalmia e desvias os ventos das zonas em que as suas consequências seriam desastrosas. Vives. Vergo-me reconhecidamente, orgulhosamente, para a perfeição de Deus perante o mundo. Não me revolto com nada, antes agradeço. Não cobro algo, antes continuo a oferecer esperança ao meu sentir e também dos que mais amo.
Conhecer-te… tornou-me diferente mas também indiferente a todo os lados que nos desviam do bem. Valeu a pena ganhar-te antes, receber-te agora e abraçar-te no futuro das luzes. Sou mais rico por te ter conhecido mas mais esclarecido pelas diferenças que me revelas. Mais iluminado pela estrela que se revela no infinito da ventura.

Texto dedicado à Eduarda de Sempre

Joaquim Santos

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Eduarda de Sempre

Hoje apetece-me escrever apenas Eduarda de Sempre. Por esta razão não me irei alongar, neste grandioso mundo dos blogs, das informáticas e informáticos, dos utilizadores e manuseares da Internet.
Um amigo me falou neste final de semana que deveria escrever mais neste espaço. Aqui estou a cumprir. Curto mas directo, sintético mas verdadeiro: Eduarda de Sempre AMO-TE.

Papá

sábado, 21 de junho de 2008


Escrevo-te filha querida, depois de no passado dia 21 de Junho ser a data do teu aniversário. Fazias 8 anos de idade. Quatro dias depois faço eu anos, 34 Primaveras e dois Invernos, desde que te foste, no dia 18 de Maio de 2006. Vou fazer 36 anos mas só comemorei verdadeiramente 34 dos anos que tenho nesta vida.

Sabes filha, nada tinha de ser assim, mas a força de um dia te revisitar, de inventar novas formas de estar contigo, é a luta de todos os meus dias possíveis e imaginários.

Quero descobrir-te. Não desisto. Nunca desistirei. Vou galopar montanhas sem fim, percorrer desfiladeiros impossíveis de contornar, voos rasantes junto de estrelas, gritar até não poder mais… Vou e vou, irei junto dos que te amam, tocar nesses bracinhos de seda, beijar esse rosto dócil, contemplar os teus olhos doces e brilhantes, deslizar os meus dedos no teu cabelo de cristal, ouvir a tua voz que entoa a melhor canção que jamais escutei neste mundo.

Não quebro braços. Não vou abaixo com as minhas forças. Não creio que seja o fim. Não. Não é o fim. É um início de uma caminha. Confesso que por vezes me desnorteio, nem sei bem qual os caminhos a seguir. Mas uma vez mais te afirmo: não desisto filha.

Beijo de Sempre
Papá
p.s. Foto de NR

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A Princesa e o Sapo


Palavras bonitas a recordar a nossa princesa...

alguém que não esquece a Eduardinha fala assim:

"18.05.06 - 18.05.08
«Vou-te transformar num sapo» - disseste-me apontando para mim a tua varinha mágica, de Fada encantada.
Eras um 'princezinha', quando te conheci.
Brinquei contigo.
Tive-te nos meus braços.
Aprendi a saber 'ganhar' um beijo teu (quando os não querias dar): eras do 'contra', por isso... se queria um beijo teu, dizia-te: «Hoje não quero um beijo teu». E logo tu vinhas dar-me o beijo que eu sempre queria.
Sabias que era Amigo dos teus papás. Era teu Amigo também.
Não tivemos tempo para partilhar o nosso 'lanche'... aquele que querias que a mamã fizesse para eu ir comer contigo.
Se eu soubesse que naquela tarde era a última vez que te via... que ouvia a tua gargalhada... que falavas comigo naquele tom de brincadeira... ter-te-ia dito que eras verdadeiramente uma Fada, uma Princesa... e eu... apenas um 'sapo' que tinha tido a sorte de encontrar uma Fada tão Linda por Amiga.
Partiste sem te despedir.
O meu coração ficou triste. Como nunca ficou antes. Foram os piores dias da minha vida e da minha missão. Nunca nada me custou tanto como ver-te ali, à minha frente... sem ouvir a tua voz... sem ver o teu sorriso...
Princesa...
Onde estás, sei que és muito FELIZ. Mas deixaste-nos a todos um pouco mais tristes.
Usa a tua 'varinha' de Fada e toca-nos em cada dia para sentirmos ainda a tua presença.
Com saudades,
Sempre, teu «sapo»."

msg retirada de: http://saint-exuperi.blogspot.com/2008/05/princesa-e-o-sapo.html

Joaquim Santos

terça-feira, 20 de maio de 2008

"Estrelas que voam para os Céus" apresentado na Galeria Municipal de Montemor-o-Velho
saiba tudo em:

http://www.cm-montemorvelho.pt/aconteceu_2008/219052008.htm

Joaquim Santos

terça-feira, 13 de maio de 2008

um sorriso para ti!...



O coração que falará para sempre

Já acordei a sorrir e a chorar
Vivi dias de esperança e outros que me perdi de desespero
Encontrei momentos que sorri e outros em que chorei
Venci e fui vencido.

Escutei canções de encantar e gritos de dor
Corpos erguidos de forma atlética e alguns vergados pelo tempo
Pessoas compreendidas e outras perdidas sobre o desespero da intolerância
Vi rostos que vendiam vida e outros palidamente mortos.

A idade avança e não para este relógio do tempo
O mundo acolhe a vida e chora partidas
O universo é dono e Senhoras e senhor
E Deus é regedor. O mestre da vida.

Ninguém se julgue a mais
Ninguém pense que é mais
Amanhã pode não haver mais
O mais pode ser inesperadamente menos

Algo que nos bate no peito
Pode não significar apenas a vida
Ele é alimento que faz crescer
O Amor como apêndice de sempre.

Ontem vi NASCER uma filha
Ontem vi crescer uma filha
Ontem vi partir uma filha
Hoje acordo e aguardo um reencontro.

Não sei quando é hoje
Muito menos amanhã
Sei apenas que hoje amo a Eduarda
E que para sempre haverá um coração de Amor.

Retirado de Cadernos Eduarda
Joaquim Santos

Setembro de 2007

quarta-feira, 12 de março de 2008

Estou junto de vós



Não procurem onde desconhecem. Estou viva mas num patamar que não se consegue alcançar daí. Nem a força das marés, a magia da natureza, a beleza de uma criança como eu fui, nada, absolutamente nada consegue desvendar o caminho certo que vos conduzirá onde já me encontro.Só percebemos quando somos convidados a comungar Deus de perto, num horizonte fraterno. Não tentem ultrapassar, atingir o que nenhum mortal consegue descodificar, O Pai que nos acolhe é bom. Isso vos garanto. Mando esta missiva para que se encontrem e se encontrem a todos. Que melhorem o mundo e as coisas. Só esses instrumentos servem para chegar aqui.Não desesperem mas esperem a vossa vez com esperança, não chorem mas sorriam porque neste degrau de cima onde tudo é melhor. Não se lancem para abismos porque ninguém cai onde me encontro. Somos amparados pelo Pai, nosso amigo e companheiro.Rezem. Falem com Deus. Não é preciso ladainhas. Orar é saber tocar forte no Pai. Não é preciso pedir porque ele dá. Antes, fortaleçam a vossa entrega. Acreditem. Sejam mensageiros e testemunhos do seu bem. Um pai ama os seus filhos. Os filhos amam o seu Pai. Deixo-vos esta missiva com este segredo para alcançar o que aí chamamos Céu. Eu diria apenas que é a casa do Pai.

Eduarda de Sempre

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Mensagem para quem deixei...


Mãe e Pai

Não envelheci como uma árvore caduca, como a erva seca e castanha, como todos os seres que enfraquecem e a pele envelhece. Fui mais cedo para um lugar onde nenhum radar me capta. Voei tão alto que nenhuma nave ou sonda espacial me alcança. Estou onde ninguém consegue saber ou imaginar o quanto é belo e aprazível.



Aqui já não choro. Não tenho dor. Não vivo na incerteza. Sou envolta de alegria por sentir paz, repleta de força de vida porque já não sofro e tenho absolutas certezas porque só aqui conseguimos atingir esse estado. Aqui tudo é certo. Verdadeiro. Autêntico.

Por isso não sofram. Não vos quedeis. Não lamentem. Deus prepara a vida com lógica. O tempo para cá chegar é diferente entre todos nós mas tem um sentido. Todos cá chegamos. A única diferença é que uns levam mais tempo e outros devem esperar. Uns têm subida directa e outros respondem primeiro pelas suas jornadas de vida.


Deus não castiga. Ao contrário do que dizem. Apenas questiona e nos adverte. Em seguida, abre os seus braços bondosos, abraça-nos e trata-nos como mais um filho que ascendeu a Ele.

Não morri, antes vivo. Não sofri, antes desfruto do prazer da vida. Não quero regressar porque sei que em breve estarão aqui comigo e só nesse momento terão esta certeza que vos relato nesta missiva do Céu.

Por isso não temais.
Eduarda

Tarde de emoções fortes, pela Eduarda de Sempre




A homenagem... num lago de amor

As lágrimas e os aplausos misturaram-se, de forma mágica, na torrente de emoções fortes que inundou o coração de cerca de setecentas pessoas, no passado domingo, dia 16, no teatro José Lúcio da Silva, em Leiria. Com a sala completamente lotada, esta foi uma tarde de homenagem, de beleza e grandiosidade, e de sentimentos que podem resumir-se, todos, no amor.
A homenagem foi dedicada a Eduarda Santos, uma menina de 5 anos que tragicamente perdeu a vida, em Maio do ano passado, e a quem os pais quiseram oferecer este presente, como tributo do amor que permanecerá para sempre. Porque acreditam que, como “estrela que voou para junto de Deus”, continua presente nas suas vidas, inspiradora de cada momento, como “uma fada a tocar permanentemente o coração daqueles que com ela se relacionaram em vida”. Por isso lhe chamam a “Eduarda de Sempre”.
A beleza e a grandiosidade foram os elementos que encheram o palco, com o magnífico bailado “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovsky, pela academia Annarella. Cerca de 150 bailarinos – crianças, jovens e adultos – transportaram os presentes a um universo de cor, movimento e graciosidade, que a todos tocou profundamente e motivou a abertura dos sorrisos e dos aplausos. Numa história que culmina na vitória do amor sobre todas as dificuldades e imprevistos, este bailado foi, sem dúvida, o enquadramento perfeito para esta tarde. A pequena Eduarda faria parte do elenco. Como recordou, emocionada, a sua professora de dança, Annarella, “a lindíssima expressão corporal da Eduarda, a sua vontade de inventar danças novas, o seu espírito de amizade contagiante, a estrela cintilante do seu sorriso – uma recordação que guardarei para sempre do seu último ensaio – estarão presentes no palco e darão a todos a força e o ânimo para darem o seu melhor”. Quem assistiu a esta grandiosa produção pôde confirmar essa verdade, no profissionalismo dos protagonistas, na beleza das coreografias e, sobretudo, no rosto cândido e feliz das suas pequenas companheiras de bailado.
O amor dos pais Cristina e Joaquim Santos pela sua filha Eduarda de Sempre foi, assim, embalado pelo sentimento comum de esperança, solidariedade e ternura que todos quiseram demonstrar. Emília Agostinho, presidente da associação “A Nossa Âncora”, para a qual reverteram os fundos do espectáculo, salientou isso mesmo: “Esta é também uma homenagem a todos os nossos filhos, que partiram cedo de mais, mas permanecerão sempre vivos no nosso coração”.
Cada um dos que nos sentámos naquela sala, entre uma lágrima de emoção e um aplauso vibrante, sentiu nesta homenagem à Eduarda, com toda a certeza, essa verdade. A vida terrena é apenas uma passagem para o Eterno. E só faz sentido se for vivida como bailado grandioso num lago de amor.

Luís Miguel Ferraz
Publicado na Edição 4673 do jornal “O Mensageiro”

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Eduarda, a cintilante...


Descrever a Eduarda com as palavras, frases e as formas possíveis...

Se palavras houvessem que pudessem descrever o que foi e o que representou a Eduarda, com certeza que extravasavam todos os limites das mais belas criações literárias. A descrição pura mas simples de uma menina que viveu quase seis anos no mundo, só é possível fazê-la com algumas somas de precisão, com resquícios de fragmentos de uma existência bela entre as mais belas.
Não há em número suficiente, as formas de descrever com perfeição a Eduarda. Vai muito além das palavras, frases, obras de arte, fotografias ou outras formas de testemunho. O sentir é um dos deixados mais lindos daquela menina. É justamente através dele, que encontramos a forma mais perfeita de a descrever.
A Eduarda de Sempre lançava para o mundo sorrisos. Comungava e dividia felicidade. Procurava adoptar e agregar as suas brincadeiras com os outros. Dava toques ilimitados de uma representação de qualidade na dança, conjugando a música como um vigor forte da sua imponente expressão corporal. De tudo gostava de ouvir e dançar: ballet, música latina, música oriental, pop, estando actualizada nos seus gostos com os últimos sucessos da Madonna, Black Eyd Peace ou a Melanie C.
Mas os seus toques e mensagens permanentes de amor foi o destaque de uma Eduarda que teve um objectivo definido e que o conseguiu cumprir como poucos se podem orgulhar. Talvez como Cristo, os seus apóstolos e muitos outros Santos que ficaram registados no mundo, com o que de muito bom propagaram na Terra, também a minha filha registou os seus propósitos nos muitos corações de pessoas apaixonadas que com ela brincaram, saltaram, riram, dançaram, estudaram, passearam… Este foi o mais importante assento desta menina. Mas não é só nos corações dos muitos amiguinhos que ela vai ficar. Orgulhosamente ficará nos anais da história, com estes Cadernos Eduarda. Esta colecção é um testemunho vivo da exponencial vida desta menina querida. Este caderno número três é a continuidade do pouco que consigo expressar para o muito que a Eduarda fez nesta vida. Vou bradar aos Céus, gritar para sempre ao mundo, agradecendo a Deus por toda esta verdadeira maravilha. Bem sei que todas as crianças são especiais e que apesar de tudo posso ser conduzido pelo sentimento paternal e também por ter visto partir uma filha. Tenho o discernimento suficiente para o reconhecer. No entanto, fui observador atento da sua conduta e se já me interrogava, hoje continuo a ter muito mais esse sentimento. Que menina foi aquela, que tinha atitudes consideradas em estar com os mais pobres, com as meninas e os meninos sem descriminações, que defendia acerrimamente a paz em geral, quer entre os mais crescidos ou os mais pequenitos e fazia da brincadeira como a solução de tranquilizante extraordinário para espalhar nobreza de carácter.
Vivo e viverei sobre a estampa especial da Eduarda. Que o Universo saiba que a menina popular mas tão majestosa nos seus actos, deixa uma missiva para os séculos dos séculos. Delega uma aprendizagem em que os humanos do futuro devem assumir se querem viver felizes e livres: Amor. Este sentimento tão desejado é o único caminho que pode conduzir para se obter uma vida com mais sentido, mesmo sabendo que a missão da existência está sempre por cumprir. Aguardo, espero que todos nos tornemos compatíveis neste processo de transformação que tanto necessitamos para crescer e coabitar neste Universo. O amor não custa dinheiro, não pode ser negociado, não está sujeito a aprovações de leis, não é regulamentado, não tem estatutos e muito menos poderá ser trespassado quando e como se quiser. O amor nasce e desenvolve-se quando nós conseguimos viver com verdade e entrega. Nós adultos não conseguimos viver desta forma com guerra, injustiça, fome e perseguições. A Eduarda de Sempre demonstrou um ciclo de vida fascinante, colocado entre o mais alto dos pedestais. Tudo se resumiu à apreciável palavra que teimosamente nos deixou como tesouro: Amor. Com este valor vimos que o mundo é feito de todos e para todos. As crianças são a sede do amor, a morada da sua contemplação e a certeza de que o recebemos de forma pura. O compromisso selado com a minha filha é de testemunhar pela vida fora todo o Amor que me deixou. Irei pelos milhões de caminhos da terra para pintar este cenário do sentimento que é a chave e solução da salvação da humanidade. Este é o sentido claro do meu ciclo, do meu trilho a seguir. Para sempre.

Joaquim Santos

sábado, 2 de fevereiro de 2008

ESTRELAS QUE VOAM PARA OS CÉUS

"Falar da obra “Estrelas que voam para os céus” é, antes de mais, fazer uma viagem introspectiva pelos insondáveis caminhos da espiritualidade e da fé.
São páginas carregadas pelo nebuloso véu da tristeza, do choro e da solidão; são páginas imersas pela frialdade do desassossego e da raiva; são páginas onde a culpa, a ansiedade e um indescritível entorpecimento avassalam os sentidos, como uma onda provinda de um imenso oceano de dor, a quebrar no sequioso areal da saudade.
Há, no entanto, um rasto de luz, maior do que todas as luzes, a iluminar as palavras que os nossos olhos, ainda que turvados pela comoção e pelas lágrimas, desejam ler de um só fôlego. Pode dizer-se que esse fulgor, tão cheio de cintilância, se assemelha a um retalho de céu, coalhado pelo esplendor das estrelas mais lindas. São estrelas que, ao virar de cada página, deixam, misteriosamente, nos nossos corações, uma qualquer oração concebida pela magia que só os anjos possuem.
A finitude da vida terrena encontra, no ilimitado espaço sideral, uma eternidade divinizada pelo amor daqueles que viram os filhos partir, rumo a essa jornada que a todos nos aguarda.
Embora dependendo do contexto sociocultural, é ponto comummente aceite que a religião pode influenciar o sentido da vida e da morte. Através da devoção em Deus, inúmeros pais desenvolveram uma espiritualidade superior, muitas vezes, distinta das crenças e dos ritos, secularmente instituídos pela religiosidade.
A fé é, aqui, uma força organizadora, capaz de emprestar sentido à existência humana, não só a estes pais, mas aos leitores desta obra.
É, assim, possível afirmar, mediante o relato dos testemunhos descritos, que quanto maior for a espiritualidade, mais facilmente se ultrapassa o sofrimento. Pode-se também acrescentar, com inegável certeza, de que quanto mais fortes forem os laços estabelecidos, maior será o sofrimento perante uma desvinculação.
Apesar das incontáveis descobertas científicas e tecnológicas, a morte permanece um enigma, que o Homem se vê incapaz de desvendar ou de sequer vencer. Quando muito consegue adiar esse momento fatídico.
Isto remete para uma questão muito mais complexa, que faz com que a vivência da morte, apesar de variar de cultura para cultura, de família para família e até mesmo de pessoa para pessoa, seja considerada, por grande parte da humanidade, como um tabu, algo de temível.
Biologicamente, a morte é o término de todas as funções vitais. Contudo, sob uma óptica social, cultural e ainda psicológica, o Homem possui faculdades cognitivas que lhe permitem entender a inevitabilidade deste estado e, por consequência, de o temer.
Esse receio resulta de um tabu social, porquanto se existisse uma maior proximidade com a própria ideia de morte e com o lado espiritual da vida, provavelmente esta não seria considerada como algo tão sinistro.
“Estrelas que voam para os céus” traduz uma compilação de testemunhos variados, de pais que perderam os seus filhos das mais diversas formas. Esta é, indubitavelmente, a maior das dores humanas. O suceder de um pai a um filho, é encarado como antinatural. Quase como se fosse um ultraje à vida, a planta poder sobreviver à semente que gerou.
Apesar de haver uma certa universalidade no processo de luto de cada um, este é, no entanto, marcado pela maneira como cada pessoa, dentro de uma certa vivência cultural e espiritual, o experimenta na sua individualidade. Ou seja, cada ser humano deve ser entendido na sua necessidade pessoal, com as suas reacções – fisiológicas, cognitivas, emocionais e comportamentais – e características próprias.
Como análise geral aos depoimentos insertos na obra atrás referida, sobressaem alguns factos comuns à maioria dos progenitores.
Imediatamente a seguir à perda, estes parecem entrar numa espécie de estado de entorpecimento, caracterizado por uma dolorosa angústia e a consequente negação da realidade consumada. Depois, constata-se o anseio e a busca em torno da figura perdida. Tal facto é materializado através de impressões sensoriais e ainda na interpretação de sinais, identificados como vestígios da uma presença etérea. Numa fase posterior, a cruel realidade impõe-se finalmente. O desespero e a desorganização surgem perante as exigências do quotidiano. A raiva e a culpa afiguram-se, então, mais intensamente. Há uma procura de responsabilização pela perda sofrida e surge a impotência de não conseguir recuperar o ente querido. A par com todos estes sintomas nasce a incredulidade. Porque permitiu Deus o acontecido? Perante o mutismo dos céus irrompe a revolta e extravio da fé.
Para melhor aceitar os desígnios de Deus, é preciso buscar a força e a confiança abalada nas lembranças e nos exemplos de vida daqueles que partiram. São essas estrelas em voo pelos céus, a guiar o caminho daqueles que um dia os aninharam ternamente nos braços e lhe falaram dos anjos, com quem eles agora brincam de mãos dadas, pelo maravilhoso jardim de Deus. É essa certeza a dar alento àqueles que permanecem deste lado da vida, à espera do reencontro com os seres especiais, os quais farão indefinidamente parte de si. Só através deste pensamento é possível encontrar um pouco do equilíbrio perdido.
Após a atenta leitura desta obra, outro dos aspectos apreendidos, incide sobre a questão do apoio psicológico e emocional. A pessoa que perde um filho, muitas vezes, não encontra espaço para falar da sua mágoa com quem socialmente se cruza no dia-a-dia. Identicamente, os que lhe são próximos podem não oferecer a ajuda necessária, por julgarem que, para respeitar a dor do enlutado, não devem mencionar o assunto da morte. Com frequência, essa incapacidade de falar com quem perdeu um filho, tem como origem a própria angústia diante do tema.
Segundo as declarações de alguns pais, verifica-se que, negar ou reprimir os sentimentos inerentes à perda, intensifica e prolonga o sofrimento. Por isso, acham que conversar sobre o que se sente, ajuda.
É fundamental não erguer muros em redor de si mesmos e não se afastarem dos outros por medo de se ferirem. Se os demais não oferecem ajuda, devem ser os pais a procurá-la, porquanto, a partilha de emoções em grupos de discussão, faculta a descoberta de soluções para a apatia e para a desordem emocional, que assinalam este processo.
Surge com insistência a questão: “Depois do vazio, que sentido faz ainda a vida, se não houver uma âncora a que nos agarremos?”. E é neste contexto que surge precisamente a associação de pais em luto “A nossa âncora”.
É este o elemento unificador de todas as histórias de perda. É sob a égide desta associação que convergem todas as lágrimas de desespero, todos os olhares doloridos, todos os abraços silenciosos, todas as palavras vãs… É aqui que as lágrimas, os olhares e os abraços se unificam e se abrem à doçura da esperança!
Falar do autor de “Estrelas que voam para os céus”, remete para um pai cuja perda da filha marcou no mais profundo da sua alma. O Joaquim Santos fez desta penosa experiência uma bandeira de luta, que diariamente empunha, com toda a força de que é capaz, sob o olhar protector da sua pequenina Eduarda, sempre vigilante nos céus, onde agora habita.
O Joaquim teve a coragem de reunir nesta obra, o seu testemunho e o de outros pais, unidos por um acontecimento comum, que foi a perda dos filhos, e de fazer destes depoimentos, uma âncora pejada pela fulgurante chama do amor. Deste modo, todos aqueles que passaram ou venham a passar pela dura prova de sobreviverem à morte de um filho, podem sentir nas páginas deste livro um porto seguro, um abrigo temporário até lhes ser permitido transpor a frágil fronteira, que delimita a vida da morte.
Como escreve Rita Ferro, no prefácio da obra, “Se a morte (…), é o esquecimento, então os vossos filhos não morreram. Nunca estiveram tão vivos, tão próximos, tão dentro de vós.”. O Joaquim consegue verdadeiramente, através das lembranças de todos os pais, trazer até junto de nós, a presença dos seus filhos. Estes permanecem vivos, apenas habitam num outro lugar, longe da terra…
Assim, quando nas noites preenchidas pelo negrume da escuridão, eu erguer os olhos para o céu e o ver envolto por um surpreendente manto de estrelas a chamejar, vou saber que cada um destes astros pequeninos tem nome de gente… "

texto de Lurdes Breda

Eduarda, és a nossa Alma Peregrina...

“Vou inflamar a imaginação humana e falar sobre a pessoa que mais amo nesta vida e também acerca de um lugar sagrado que todos os seres vivos sabem que existe mas onde ainda ninguém foi. É lá que já se encontra a minha querida filha Eduarda Santos, desde o dia 18 de Maio de 2006.
... ela partiu deste mundo, da sua parte terrena, voando para o cimo celestial. Na rede da vida existem mistérios por desvendar. Infelizmente nem eu, nem ninguém, sabe ao certo o que existe para lá da existência terrena. Não queremos que os que mais amamos efectuem essa passagem. Desejamos que fiquem connosco. Mas, na verdade, a partida de muitas pessoas para a liberdade do céu, para a “terra” da abundância, acontece a todos os seres que percorrem a vida.
Acontece-nos mais cedo ou mais tarde. Foi assim com a minha querida Eduarda, quando somava apenas 5 aninhos.Mas sei que irá haver noutra dimensão um ponto de encontro. Nessa ocasião, renascerão quantidades de alegria inesgotáveis e tudo o que parece perdido neste momento estará amplamente ganho. Perante a minha impotência, a minha tristeza, mágoa e dor, deixo uma pergunta a todos os que estejam a ler este texto dedicado à minha filhinha. Para quê disputas ilógicas neste mundo passageiro?
Percebo, entendo agora muito mais, que a vida tem um valor perene. Que num determinado momento, somos transportados para a abundância e abrigo do Céu. Para um lugar divino.
Confesso que tudo parece ter ficado imóvel e silencioso sem a presença da minha Eduarda. Mas os muitos momentos bons e a esperança de que quando Deus quiser, seremos igualmente convidados a efectuar uma aproximação ao seu mundo. Conforta-me que quando chegarmos, ela estará de braços abertos para nos acolher e com o seu sorriso, o mais lindo que conheci.
Eduarda, agora, olho para o Céu, onde tu estás, e sei que todas as estrelas que avisto são enviadas por ti, para iluminarem o coração da mamã e do papá.
E que os nossos dias vão adquirindo mais cor, porque tu, com a tua magia e varinha de fada que tanto gostavas de usar, tornas todos os momentos infinitamente coloridos.
Aqui, neste espaço terrestre, sei que foste feliz. Isso também me conforta. Por isso, já sinto os teus voos rasantes a orientarem os nossos caminhos e, com o teu jeitinho especial, tens convertido o que parecia impossível na confirmação de uma felicidade, que gradualmente vai tomando lugar em nós que por cá ficámos.
Quando me levanto, pergunto o que vou e para quem fazer? Qual a motivação? Mas a convicção de que estarás bem, ajuda-me a mim e à tua mãe a recuperar do irrecuperável. Antes éramos nós que tomávamos conta de ti. Presentemente tenho a certeza absoluta que és tu a tomares conta de nós.
Neste momento, os dias e as noites parecem mais longos e difíceis. Tomamos aqueles químicos que nos ajudam a descansar e a encarar a vida. Mas nada alivia a tua falta, a saudade de ti. Mas, meu Deus, que bom saber que estás bem. Que te encontras em segurança e desfrutas lá de cima de uma visão espectacular. Protege-nos. Eduarda Santos, és a nossa Alma Peregrina.”

Extractos do artigo “Eduarda de todos os tempos”
Publicado em noticías do Colmeias

Joaquim Santos

Eduarda de sempre e para sempre...

Cada lugar teu- Mafalda Veiga

Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar

Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçart
udo o que eu te dei

Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só

Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar