COMO A PRÓPRIA EDUARDA DIZIA "MÃE TU ÉS A MINHA ESTRELA CINTILANTE"
AGORA PASSOU A SER A EDUARDINHA, A ESTRELA CINTILANTE QUE BRILHA BEM DO ALTO DOS CÉUS

sábado, 11 de outubro de 2008

À Estrela Luminosa

Os resquícios de tantos momentos vividos são a memória e alimento dos meus dias. Vi-te nascer, crescer pouco mais de metade de uma década e depois assisti sem o desejar ao elevar da tua vida ao mundo onde só as verdadeiras estrelas residem.
Lembro-me dos teus olhos cores de arco-íris, do teu sorriso estampado permanentemente como obra de arte bela e rara e a força da tua vida com capacidades tão peculiar de criança de palmo e meio… Precisava de ti. Preciso de tudo o que és, dos percursos que fizemos enquanto foi permitido dividir os nossos dias. Mas tu, continuas a ecoar no universo total do que sou. Apesar de parecer contraditório, Serzinha, estás mais viva do que nunca.
Na época, no meu entender, eras apenas a filha do “papá e da mamã”. Chegava o que a vida nos contemplava. Não sabia que tinha uma estrela que se iria revelar em tão pouco tempo. Conhecia a tua luz e brilho mas queria-os aqui, bem perto de nós, do palpável e visível. Mas descobri que uma estrela verdadeira é algo de transcendente, fora do entendimento e da razão, tão condicionado é o conhecimento do Homem sobre o desfecho dos tempos na Terra.
Quando no dia 18 de Maio saíste dos campos floridos deste planeta confuso, mascarado de adultos em estado de aprendizagem, percebi tudo filha adorada. Entendi que conhecer-te foi uma dádiva de Deus. A forma como estiveste nos meus dias tornou-me diferente. Atingi que conhecer-te foi viver um passado bom e que ganhara uma semente para me proteger e fazer aprender a viver no futuro. Aprendi a conhecer e reconhecer o presente, grande parte dele incompleto mas sólido na consciência, perpétuo no sentimento e incondicional no agradecimento superior de contigo ter estado numa idade, num espaço.
Viver-te outrora foi saber que foste razão e, viver-te actualmente, é ter a certeza absoluta que és uma enviada especial do mundo das estrelas, que és correio que se difunde pelo mundo das notícias do Amor, Paz e Felicidade. Sei que estás aí. Que permaneces com tudo o que eras e que se acrescentou a Ti a supremacia suprema. Deus criou o mundo perfeito. Tudo cresce, desenvolve-se até um determinado ponto mas depois as coisas mudam de lugar.
Deixaste-me o Anjo que me fizeste na escolinha. Porquê? Pergunto eu, humano condicionado... Sei que ele significa todo o sentimento que nutrias por mim quando o elaboraste. Mas sabes o que me confunde? Porque entregas-te esse anjo no nosso último Natal? Que significado tem aquela construção de barro, envolto em fitas brilhantes, com massinhas coladas na cabeça a imitar cabelo, asas feitas com um poliéster que emite penas e uns olhinhos redondos que me fitam com atenção e cuidado?
À tua mãe maravilhosa delegaste uma frase que o mundo abraçará. Sobre os pequenos como tu, proferiste à tua mais que tudo: “mãe, as crianças não morrem”. É verdade filha. Aprendi isso. Como tu, as crianças vivem sempre, para sempre. Também te desejo perguntar: porque afirmas-te com tanta convicção que a tua mãe querida é “uma estrela cintilante”? Agora, permanece essa estrela cintilante neste canto do infinito universo e tu transportas-te de forma reluzia no mundo das verdadeiras luzes.
Estou diferente. Por te conhecer, por te reconhecer. Marcas-te o chão desta bola giratória mas passaste a destaque do alto que é composto por Deus e muitas Estrelas. Pensei que serias minha mas afinal não somos de ninguém. Somos de todos, para todos. Continuei a não privar-me de Ti, de toda a tua realidade. Embora não te veja, ouça e sinta fisicamente, reconheço que o escuro é menos sombrio com a tua participação de luz. Corrias e vendias vida mas essa tarefa continua-te delegada. Sinto-o. Tenho a certeza que ajudas na difícil tarefa de iluminar corações perdidos, na propagação do sentimento Amor que se quer mais autêntico, na edificação de esperança nos sentimentos sem deslumbramento nas adversidades.
Não choro muito por ti. Desculpa-me por alguma razão, mas sinto que não o devo fazer. Aprendi que viver é aqui e lá. Conhecer-te foi ir mais além, tornar-me num Homem menos dividido mas antes consolidado com o bem. Deu-me a capacidade de perceber o quanto tenho de evoluir, melhorar e cuidar. Um dia, também eu quero ser merecedor de ser luz. Sei que não serei cintilante como tu ou a tua mãe. As minhas preferências, opções de vida, não me conferem esse direito que só mesmo as verdadeiras estrelas auferem. Mas suspeito que posso ser luz. Que vou iluminar alguns cantos e recantos desse lado para aqui também chegar os meus raios de arco-íris incompleto.
Nesse dia que tornou diferente os meus dias e os da tua mãe, deslumbrei que conhecer-te foi a maior das dádivas de todo o nosso existir. Nesse acidente tráfico eu faltei para te amparar. Estive toda essa tarde ao teu lado, a passear na feira, passeando nos carros de choque, nos carróceis, nos barquinhos... Desculpa filha porque não ter oferecido a fartura que pediste. A avó comprou-a depois, não foi? Quem me dera poder comprar-te as farturas de uma feira de todos os dias. Mas sei que o nosso tempo não volta atrás nunca mais.
Abraça-me. Preciso de Ti. A tua mãe precisa de Ti. Precisamos todos de Ti. A tia Patrícia, os tios “Caco” e Elisabete e os avós que eram a tua união e garante de crescimento, somam saudades sem limite, quase sufocados pela ausência do encanto de uma Princesa e a magia de uma Fada que tanta falta faz aos nossos dias. Mas, iluminados pelos teus focos de branco puro, transformamos os nossos dias em quartzo cristalino cor-de-rosa, descoberto por ti nas profundezas do Amor, no fundo, o melhor que sabes dar.
Patrocinas com mérito o pulsar dos corações. Movimentas as marés para a acalmia e desvias os ventos das zonas em que as suas consequências seriam desastrosas. Vives. Vergo-me reconhecidamente, orgulhosamente, para a perfeição de Deus perante o mundo. Não me revolto com nada, antes agradeço. Não cobro algo, antes continuo a oferecer esperança ao meu sentir e também dos que mais amo.
Conhecer-te… tornou-me diferente mas também indiferente a todo os lados que nos desviam do bem. Valeu a pena ganhar-te antes, receber-te agora e abraçar-te no futuro das luzes. Sou mais rico por te ter conhecido mas mais esclarecido pelas diferenças que me revelas. Mais iluminado pela estrela que se revela no infinito da ventura.

Texto dedicado à Eduarda de Sempre

Joaquim Santos